Manaus, 26 de Abril de 2024

Carlos Almeida pede exonera??o da Casa Civil e exp?e rompimento com governador Wilson Lima

Em carta com linguagem cifrada, Carlos Almeida deixa claro que n?o suportou enfrentrar Cila e Caribidis, que correspondem, segundo alguns autores, "? corrup??o e ao conformismo"

Política | 18/05/2020 - 12:45
Foto: Reprodu??o

Carlos Almeida

Em carta com linguagem cifrada, Carlos Almeida deixa claro que não suportou enfrentrar  Cila e Caribidis, que correspondem, segundo alguns autores, "à corrupção e ao conformismo"
 

Por Warnoldo Maia de Freitas


O vice-governador Carlos Alberto Filho (PTB/AB) confirmou na manhã desta segunda-feira, 18/05, o seu rompimento com a gestão do governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC/AM), e pediu exoneração do comando da Casa Civil, o braço direito da administração estadual.

Sem espaço para desenvolver as ações que considerava indispensáveis para promover o resgate social, conforme destaca a Carta de Exoneração entregue ao governador, Carlos Almeida resolveu pular do barco - ou Galé, como ele mesmo afirma na Carta -, por ter a convicção de que nao poderia, mesmo remando forte, superar os abismos criados pela atual gestão. 

Na Carta, Carlos Almeida destaca os perigos encontrados dentro do governo estadual por meio de uma linguagem "cifrada" e lembra que "não se singra por águas tormentosas sem que se tenha de enfrentar Cila e Caribdes", monstros marinhos que, segundo a mitologia, destruíam navios.
 
A sua argumentação também nos deixa apreensivos e nos leva a questionar quem seriam os tais "Caribidis" do governo, aqueles mostros que sempre atuam fora da vista, nas sombras, mas causam males terríveis à população, a exemplo dos identificados e ainda por identificar e que tiveram atuação decisiva nos "Maus Caminhos", desviando milhões que hoje fazem muita falta à saúde. 

De forma cifrada, Carlos Almeida faz um breve relato da sua carreira e deixa bem claro que não suportou Cila e Caribidis, que são, segundo alguns autores, "a corrupão e o conformismo", os mostros que assolam o Brasil e o Amazonas e que "continuam comendo a dignidade do povo".

Há quem  diga que o vice-governador seguiu "os conselhos" do seu pai,  Carlos Alberto Souza de Almeida, presidente do Tribunal de Contas do Estado (TCE/AM), órgão este que já se manifestou publicamente cobrando explicações sobre os gastos ainda não explicados da administração estadual, com relação às despesas registradas na área da saúde, para combater a pandemia do covid-19.
 

A exemplo de Odisseu, arrastado pelo turbilhão dos "equivocos" da gestão Wilson Lima, o vice Carlos Almeida tenta, agora, escapar do naufrágio provocado pelo sacrilégio que teria sido praticado contra as verbas da saúde e à dignidade do povo amazonense, e agarra-se à uma figueira salvadora que surge frente à gruta do novo Caribdis do Amazonas, o monstro voraz, que insiste em copiar práticas e condutas dos seus mentores e permanecer trilhando Maus Caminhos.

 

 
 
CONFIRA A CARTA DE EXONERAÇÃO
 
Senhor Governador,

Nesta última quinta-feira voltei para casa mais cedo que o usual, alquebrado e
desiludido. A Psiquê diz que em momentos de extrema tensão o passar do tempo é mais
arrastado e o aguçamento dos sentidos permite saborear com muito mais intensidade cada
sentimento. Foi assim que pude ver, na inocência dos meus dois filhos bebês, a angústia
que me encontrava, pois meus ideais de pai e de homem público se confundem. Apertou
meu coração ver o sorriso do meu filho e não corresponder por estar dragado por
preocupações. Que futuro eu construiria para eles? E me tomei taciturno por longos dias.

Tal qual nos insights em momentos de trauma, todo meu histórico me passou pelos olhos,
contudo, sob a lente cinza dos momentos atuais. Que futuro construiria para mim? E me é
obrigado a pensar assim.

Tenho perfeita consciência da minha personalidade, aguerrida sim, porém sempre
conciliadora – algo que é atestado por inúmeros que comigo conviveram ao longo dos anos
-, o que decorre de toda uma vida de desafios. Permito-me um breve histórico.

Sou filho de engenheiros, de uma mãe aguerrida, hoje advogada, e de um pai
conhecidamente duro e probo, ambos amorosos e ciosos do maior dever que tiveram com
seus três filhos: a incrustação de educação e valores.

O exemplo sempre me era cobrado, por ser o primogênito. Portanto, numa vida sem luxos e
de grandes dificuldades, meus estudos, quase que integrais, em escolas públicas deveriam
refletir a mesma perseverança de meu pai: o penúltimo filho, numa família de nove irmãos,
que se educou só e sustentou uma família inteira em tempos difíceis.

Como a ele, nada me veio fácil, somente através de
muito estudo galguei espaço nas duas faculdades que cursei simultaneamente. Somente
através de muito trabalho, pude ajudar no sustento de minha família. Somente com muito
esforço pude lograr aprovação em certames públicos, dentre os quais o da minha amada
Defensoria.

Decerto as histórias maravilhosas que meu pai contava todos os dias tenham forjado
minha visão mais idealista do mundo, um desejo constante de mudar o que encontrava de
errado. As citações de Sidarta Gautama, Carlos Castañeda, Benítez, Frank Herbert, dentre
muitos ecoam em meus pensamentos como sinalização para se evitar os mundos
distópicos de Orwel ou Huxley.

Daí minha paixão pelo exercício de meu ofício enquanto
Defensor, o que se vê claro nas escolhas profissionais que me levaram a tantos e públicos
embates na busca incessante pelo direito das populações. Contudo, ao perceber que os
mais básicos direitos fundamentais exigiam implantação de políticas públicas mais
profundas, me creditei ao processo eleitoral, sustentando, dentre várias, a pauta da
Moradia, uma das mais graves omissões no Estado do Amazonas.

Após um processo eleitoral que nos foi muito duro, chegamos a um Estado em
frangalhos, que exigia um sério processo de reconstrução. E foi justamente o que me
propus, ao seu lado, a fazer. Com toda a dedicação e espírito público, empreguei toda a
energia que pude na pasta da Saúde, contudo as convulsões internas de março de 2019
fizeram com que o Senhor me chamasse à Casa Civil, onde o trabalho de reconstrução
deveria ser feito, aliado à articulação política. Ao que me dediquei, com perseverança e
lealdade durante todo o ano de 2019, o que permitiu a construção de um ambiente de
austeridade, a autorizar para este ano de 2020, o início de ações estruturantes, como
exemplo, Moradia, no caso Monte Horebe.

Contudo, não se singra por águas tormentosas sem que se tenha de enfrentar Cila e
Caribdes. Em Política não é diferente, e personagens tão ou mais perigosos se encontram
em todos os lugares, às vezes, até mesmo dentro nosso próprio barco. Meu papel,
enquanto homem público, preocupado em fixar mais um tijolo na construção de um
Amazonas melhor, foi sempre de blindar meu Estado contra esses Espectros, alertando-lhe,
sempre, dos caminhos a serem seguidos, para não tombar nos rochedos.

Todavia, a despeito de todo meu esforço, não estou com a mão no timão, e já exauri
minhas forças remando forte no sentido oposto de muitos nessa Galé. Portanto, Senhor
Governador, agradecendo-lhe toda a confiança que me foi depositada, afirmo-lhe não seguir
pelos atuais rumos, ao passo que lhe comunico minha exoneração da Casa Civil,
retirando-me para o ofício inerente à vice governadoria.

Manaus, 18 de maio de 2020.
Carlos Alberto Souza de Almeida Filho
 
 
 
 
 
 
 
 
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 
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